Se eu aprendi a interpretar um pouco dos meus próprios sinais, o fato de estar aqui sentado escrevendo isso é um mal sinal, mas de que alguma coisa vai melhorar. Confuso, eu sei.
---
Às 20:13 h de um Sábado, acordo em meu quarto, escuro. Percebo então que o meu pedido de morte anterior não foi atendido (novamente). 15 horas seguidas de sono e os flashes do dia anterior ainda estavam lá, como um alerta, uma mensagem do meu inconsciente dizendo que tem uma bagunça pra ser resolvida. Respiro fundo e saio da cama.
A noite anterior parecia a última fase de uma cadeia de (auto)destruição que eu havia iniciado aquele dia.
Ao abrir a porta da sala do meu trabalho, naquela tarde, onde o forro do teto é habitado por pardais e pombos, me deparo com um filhotinho de pardal que havia caído por uma fenda no forro, a pobre criatura ainda estava viva com a queda, não tinha penas e nem aberto os olhos ainda. Minha preocupação era o que fazer com ele já que havia meios de devolver ao ninho. Ao pedir sugestões para os colegas, as opções que me deram iam de idiotices à crueldades. Seres humanos. Eu estava só e o passarinho ainda no chão. Peguei
uma pá e o coloquei cuidadosamente sobre ela pois não tinha coragem de pegar nele, imaginando o meu descuido o machucando. Enquanto conversava com os deuses, pedindo algum sinal do que fazer, eu desejava não ter coração pra me preocupar daquela forma, como os colegas do 2º andar. Acho que essas pessoas são felizes.
Enquanto montava um "ninho" de folhas secas, eu falava à Hécate para me ajudar e fazer algum passarinho com bom coração alimentar aquele filhote. Cheguei a pensar que era melhor que ele tivesse morrido com a queda para não ficar sofrendo sozinho. Eu fiz um "ninho" e um círculo mágico. Quando o coloquei dentro, estava morto. Briguei com Hécate e os deuses. Era uma revolta, mas no interior um agradecimento.
---
À noite naquele mesmo dia, fiz dois amigos brigarem verbalmente, em uma mesa de bar, após ter feito uma piada que serviu de "brecha" para finalmente as "verdades engasgadas" serem ditas. Ótimo. Só não queria ter sido eu a fazer isso. Me senti mal. Segunda vez no dia que não queria ter um coração para me importar com aquilo. Mais uma vez briguei com os deuses.
Sabemos que quando o álcool sobe, todas as emoções parecem encontrar o álibi perfeito para sair e fazer seu estrago.
Foi quando uma amiga puxou a minha mão e me afastou da mesa, para um lugar onde ela disse tudo o que me assombrava nos últimos dias e eu mesmo negava ao pensar nisso. É o fato de eu ser um trouxa mesmo, basicamente falando, reparar no monte de coisas que faço por amigos que não fazem questão de se "mover" para estar comigo. Ninguém é obrigado a nada e o que não é feito de boa vontade não vale a pena, mas se repara bem, isso só agrava a situação.
E lá estava eu sentado e chorando no banco da praça com ela me abraçando. Eu transbordava álcool e mágoa. Foi a terceira vez no dia que eu desejei não ter um coração.
Antes de dormir desejei não acordar mais. Silenciosamente. Como um consolo e libertação de uma mudança que teria que fazer. E às 20:13 h do Sábado meu pedido não foi atendido e a única coisa que havia morrido era parte de mim que acreditava e esperava o melhor de todo mundo.
Aqui jaz minhas esperanças!