Não sei dizer quantas vezes eu me senti triste e acredito que você também não, mas não é isso que eu quero analisar agora. É que eu me lembro dela, a tristeza, como uma presença constante em minha vida, e mesmo estando com os meus amigos, rindo ou amando, ela ainda estava lá. O que eu não me recordo durante aqueles momentos é de me sentir triste. Confuso? Vamos ver se eu consigo explicar melhor. Eu me acomodei na tristeza porque ela me pareceu confortável e mais acessível. Ela parecia mais “eterna” do que qualquer felicidade que eu poderia ter. Além de que sempre houve milhares de músicas tristes que eu posso me identificar, músicas de traição e término de namoro, mesmo que eu nunca tenha namorado ou sido traído numa relação. E existem milhares de frases e poemas melancólicos que eu poderia facilmente transformar em posts nas redes sociais. Viu? A gente tem um disponível um recurso enorme para se acomodar na tristeza. Eu tinha acesso a esse recurso e comecei a construir uma “casa” com ele, e já fui embutindo logo a mobília e decoração.
Se aquilo seria parte da minha vida, por quê não transformá-la num lar, em algo pra eu me sentir confortável? Era pra eu estar me sentindo confortável né? Mas não estava. Na verdade eu estava acomodado (o que é bem diferente). Era como se eu estivesse afundado num sofá e preferia ficar ali do que me mover. Qualquer esforço parecia inútil, qualquer ideia ou fantasia que eu atraísse parecia impossível de ser colocada em prática ou de que eu me adaptasse. Era algo estranho...
Mas durante esse processo havia um outro: acumular coisas. - Acho que isso é algo de família, desde a minha avó, a gente tem mania de encher a casa de coisas. E era algo assim que estava acontecendo dentro de mim, só que ao invés de taças e potes eram pensamentos e emoções. Mas para facilitar a imagem, vamos imaginar como um monte de objetos...
Bom, como eu ia dizendo eu estava afundado no sofá. Agora vamos imaginar isso numa sala cheia de móveis e objetos espalhados, de modo que você não consegue se mover sem esbarrar em algo e piorar a bagunça. Era um depósito de emoções e pensamentos de todo o tipo. Isso tudo dentro de mim, tá gente? Vamos usar a imagem da sala só pra ilustrar. Por fora a vida continuava. E de uma forma inconsciente eu colocava esse peso pra fora, da forma que eu podia, eu desenhava, escrevia (neste blog, por exemplo), criava fotos. De algum modo era como se eu fosse limpando aquela sala. Tirando o excesso interno e transformando em algo produtivo no lado de fora. Engraçado isso né?
Eu talvez não sei explicar, mas algo me dizia que não eras pra eu estar acomodado na tristeza. E foi quando em um momento da minha vida eu senti uma mágoa tão grande que aquilo se tornou insuportável. E as opções que eu via eram continuar ali ou sair. Eu não me reconhecia mais naquele lugar, eu não queria nada daquilo ali. Eu precisava de uma faxina interna! Organizar o que deveria ser organizado e dispensar o que deveria ser dispensado. Fui fazendo isso com calma, afinal, eu havia reunido aquilo em ANOS, não seria de um dia pro outro que eu ia arrumar tudo aquilo. Eu fiz no meu tempo. Não me forcei, mas me alertava para não desistir.
Foi um processo interessante, embora algo me intrigava. A tal “casa da tristeza” ainda estava lá, montada, mas dessa vez eu poderia sair. E ao começar a sair eu vi que as coisas não são feitas de “preto ou branco”, opostos bem divididos; como se ao sair dali eu seria automaticamente mais feliz. Era como andar num corredor de vários tons, cheio de janelas e portas para várias salas. Diversas cenas e sensações , onde eu me sentia feliz e ás vezes não. E comecei a entender aquilo como um ciclo. Em cada sala, cada fase ou momento da vida eu me via ambientado numa emoção, mas não morava nela, porquê como um ciclo, era passageiro. E vivendo, mais uma vez eu chegava na tristeza, mas não enxergava mais como uma “casa”, apenas mais uma das salas. E assim como nas outras emoções eu não me via acomodado, apenas confortável.
A gente só deve se sentir confortável na tristeza sabendo que ela passageira. E mais uma vez seguimos. Em cada fase, organizando os pensamentos e as emoções, vamos percebendo que ao longo do tempo a decoração de cada sala vai mudando. Ás vezes quando volto pra sala da tristeza, vejo que certos “objetos” sumiram, eu apenas deixo eles irem, como prova de que superei aquilo. E aos poucos vou organizando o que ainda resta.