Era uma vez uma folha que de repente, numa tarde, se desprendeu de uma árvore. Como sua primeira
queda ela achou lenta e um pouco tediosa... Enquanto caĂa, em meio a brisa, começou a pensar em tudo o que havia visto durante sua estadia no galho da árvore.
Os apaixonados, que juraram amor eterno, enquanto as folhas se agitavam emocionadas com a mesma brisa que balançava os cabelos dos amantes.
Presenciou pessoas que pararam debaixo da sombra e entravam em comunhĂŁo com o mundo, de olhos fechados, essas pessoas nĂŁo viam as folhas mas as sentiam mais do que aqueles que as tocavam realmente.
Quando, ainda na árvore, possuĂa um lugar privilegiado perto do topo. Ela viu cometas e estrelas cadentes que passavam, fez inĂşmeros desejos, os fazia com tanto fervor que nem se importava se nĂŁo fossem realizados.
O céu, cheio de estrelas já foi teto para as noites em que todas as folhas paravam para escutar as histórias que as pessoas contavam debaixo da árvore. Vez ou outra se mexiam para espreguiçarem, mas logo o silêncio retomava.
Ela gostava dos dias de verão, se divertia vendo as pessoas correndo para debaixo das árvores, se encostando à procura de sombra. Para ela, o encostar era como um abraço.
Em meio aos devaneios, reparou que estava quase atingindo o chĂŁo e quando pensou que iria se sentir triste com o fim, na verdade se sentiu feliz pelas histĂłrias que viu, das brisas durante as tardes e das estrelas cadentes carregando seus desejos. Aceitou o fim do seu ciclo.
E ali no chão não era apenas mais uma folha, era uma lembrança dos dias quentes, amores, abraços e cometas.
*Escrito em um guardanapo, numa mesa de bar. [SĂł pra constar]